Em sistemas energizados, a inspeção de linhas e subestações é o ponto de partida da manutenção: tudo começa na coleta de evidências em campo para sustentar decisões de correção e prevenção, elevando a confiabilidade do sistema elétrico.
Inspeções bem executadas alimentam o planejamento de manutenção, reduzem falhas e evitam perdas operacionais, inclusive penalizações por indisponibilidade. Logo, a qualidade de registro e a clareza técnica são inegociáveis.
Este guia reúne boas práticas de inspeção integrando métodos tradicionais com recursos tecnológicos. O resultado esperado é simples: reduzir risco, priorizar intervenções e ganhar eficiência sem negligenciar a segurança em ambientes energizados.
Conteúdo
Planejamento dos trabalhos
Conforme a realidade de cada empresa e do país em que opera, os planos de inspeção de linhas e subestações devem observar padrões, critérios e documentos internos e normativas aplicáveis.
Objetivo: decidir “o que, quando e como” inspecionar, com critério.
- Priorização por risco: carga atendida, histórico e indicadores de confiabilidade.
- Escopo e janela operacional: faixa, vãos críticos, áreas sensíveis, travessias e baias.
- Histórico e contexto: últimos achados, OS, clima e vegetação.
- Seleção de método: visual terrestre, termografia IR, ultrassom/PD, UV-corona, LiDAR, drones e sensores on-line conforme o risco.
- Critérios, dados e responsabilidades: taxonomia e prazos definidos, metadados completos, sistema de análise robusto, equipe treinada e papéis bem definidos
No checklist prévio, não esqueça de alinhar as rotas e responsabilidades com a equipe. Também é importante verificar as autorizações e garantir que todos os instrumentos estejam calibrados e adequados para as tarefas. Se houver operação com drone, prepare o plano de voo com antecedência. Além disso, não deixe de registrar a matriz de risco e de deixar pronto o template de relatório a fim de agilizar a análise posterior.
Segurança em primeiro lugar
Conforme as normativas aplicáveis, toda atividade deve iniciar com APR e Permissão de Trabalho formalizadas, verificação de EPI/EPC e checagem das condições climáticas. Dessa forma, a decisão de prosseguir ou não precisa estar ancorada em critérios objetivos de risco e em registros claros.
Além disso, em sistemas energizados é indispensável respeitar limites de aproximação e adotar o método correto com equipe qualificada. Ainda que a demanda operacional seja alta, não realize atividades de manutenção em Linha Viva à noite ou sob chuva. Vento forte, neblina densa, atividade elétrica atmosférica e baixa iluminação configuram fatores go/no-go.
Em seguida, garanta comunicação efetiva e isolamento de área: briefing inicial, meios de comunicação testados, sinalização visível e controle de acessos em subestações reduzem falhas de coordenação e exposição indevida de terceiros. Logo, cada etapa deve ocorrer sob uma mesma linguagem operacional.
Por fim, resgate e emergência precisam estar claramente conhecidos por todos. Em caso de incidentes, acione a emergência antes de qualquer tentativa de resgate técnico. Em resumo, segurança não é um adicional na inspeção de linhas e subestações, mas sim o seu eixo central.
Execução em campo: o que observar?
Estruturas e suportes: Em postes e torres, verifique prumo, trincas, corrosão e integridade das fundações. Nas ferragens, observe deformações, folgas e ausência de fixações. Em madeira, inspecione a base (escavação/sovela). Registre fotos com escala e ângulo repetíveis.
Condutores e conexões: Busque “hot spots”, fios rompidos, esfolamento e emendas aquecidas. Avalie acessórios (espaçadores, amortecedores) e a integridade do cabo para-raios/OPGW. Priorize termografia para triagem e detalhe visual em alta resolução para confirmar.
Isoladores: Nos isoladores, observe trincas, contaminação, marcas de fuga e desalinhamentos. Quando aplicável, complemente com UV-corona e ultrassom/PD. Classifique severidade no ato do registro.
Equipamentos de subestação. Em transformadores, faça varredura em buchas/radiadores e procure vazamentos. Ruídos anormais podem motivar uma avaliação mais profunda. Em disjuntores/seccionadoras, inspecione bornes/barramentos. Foque nos pontos de alta resistência e limpeza/contaminação. Percorra as baias, com checklist por equipamento e evidências fotográficas com tags.
Faixa de servidão e vegetação. Mapeie intrusões, rebrota e árvores “perigosas” considerando distâncias mínimas de segurança. Documente com coordenadas e fotos comparáveis para apoiar o plano de poda/limpeza.
Em geral, verifique a viabilidade de adotar amostra de dupla verificação (dois inspetores no mesmo item) e utilize modelo único de relatório para a consistência da análise. Isso acelera a priorização e aumenta a eficiência das operações.
Tecnologia a serviço da vida
Os recursos tecnológicos são um meio para padronizar evidências, reduzir exposição e ganhar velocidade com qualidade. Em inspeções de linhas e subestações, soluções de visão computacional fazem a triagem automática das imagens, destacando anomalias prováveis e organizando metadados. Combinadas a drones com rotas repetíveis, fotogrametria e até LiDAR, entregam comparabilidade entre campanhas e melhor visada em áreas críticas. Essas abordagens elevam a previsibilidade do processo e a qualidade das evidências.
Dessa forma, o resultado prático é um ciclo mais rápido e consistente da execução do relatório. Plataformas com IA aceleram a análise, mantêm rastreabilidade das imagens e integram-se ao fluxo de trabalho da manutenção (relatórios estruturados, priorização por risco e encaminhamento para execução), encurtando o tempo entre o achado e a intervenção.
Em segurança operacional, o ganho é direto: drones acessam trechos remotos e zonas de difícil aproximação, reduzindo deslocamentos e tempo de permanência em áreas energizadas. Planos de voo e checagens automáticas trazem disciplina operacional, enquanto a captura aérea melhora a leitura de componentes e do entorno. Na prática, diminui-se risco e custo sem abrir mão da profundidade técnica.
Conclusão
Em suma, inspecionar bem é cuidar de sistemas e de pessoas. Treinamento, atenção aos procedimentos e comunicação clara mantêm a equipe segura. Além disso, a tecnologia amplia esse cuidado. Com drones, sensores e inteligência artificial, ganhamos alcance, velocidade e evidências melhores, reduzindo exposição desnecessária sem substituir o olhar do especialista. Portanto, mantenha o básico bem-feito e use a tecnologia para transformar cada evidência em decisão no tempo certo. Assim, cada inspeção vira prevenção.
Este artigo é fruto de uma parceria entre a Pix Force e a CTST. Para continuar se aprofundando nos temas de tecnologia, segurança e eficiência em manutenção, acompanhe os nossos artigos.